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Nicodemos - Mario Persona

Nicodemos - Mario Persona


https://youtu.be/kp32DBpEQq8

Nicodemos
Mario Persona

Existem duas maneiras de uma pessoa ser condenada ao lago de fogo, de uma pessoa ir ao que costuma ser chamado de inferno, de uma pessoa perder a vida eterna e receber a condenação eterna. Uma maneira é ser uma pessoa má, fazer o mal para as pessoas, desobedecer as leis, assaltar, roubar, adulterar, praticar toda sorte de coisas ruins, malignas, imorais, tudo aquilo que é condenado normalmente pela sociedade. A outra maneira é a pessoa ser boa, honesta, correta, seguir todas as leis, praticar tudo aquilo que é justo, bom, em benefício dos outros, ajudar as pessoas, fazer caridade. Esses são dois modos de vida que podem levar uma pessoa para o lago de fogo.

É sobre isto que quero falar lendo primeiro no evangelho de João, capítulo 3, versículo 1: "E havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. Este foi ter de noite com Jesus e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele. Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura, pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer? Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito."

E também em João, capítulo 19, versículo 38, vemos que acontece algo depois da crucificação de Jesus no monte da Caveira: "Depois disso, José de Arimatéia (o que era discípulo de Jesus, mas oculto, por medo dos judeus) rogou a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. E Pilatos lho permitiu. Então, foi e tirou o corpo de Jesus. E foi também Nicodemos (aquele que, anteriormente, se dirigira de noite a Jesus), levando quase cem libras de um composto de mirra e aloés. Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com as especiarias, como os judeus costumam fazer na preparação para o sepulcro. E havia um horto naquele lugar onde fora crucificado e, no horto, um sepulcro novo, em que ainda ninguém havia sido posto. Ali, pois (por causa da preparação dos judeus e por estar perto aquele sepulcro), puseram a Jesus." Nós vemos aqui um homem chamado Nicodemos e o Senhor Jesus vai tratar com ele de um assunto que é muito interessante que é, nascer de novo, o novo nascimento.

Ouvimos muito essa expressão às vezes em uma entrevista na TV, alguma pessoa que sofreu um acidente e escapou ileso fala: nossa, eu nasci de novo. Não, você não nasceu de novo, você escapou ileso de um acidente. Você continua com a sua mesma vida que tinha antes. Ou então quando recebe um transplante: nasci de novo. Não, não nasceu de novo. A vida é a mesma que você tinha, você vai viver mais tempo por causa do transplante. Muitas vezes usamos esse termo para diferentes situações ou, usamos então, dentro do próprio âmbito cristão, para falar de uma pessoa que tinha um tipo de vida e, de repente, ela deu uma cambalhota e começou a viver de outra maneira. Aquela pessoa que você fala: olha, aquela pessoa era assaltante, era mau, era perverso, aí ele nasceu de novo e agora ele é uma pessoa boa, justa, correta. Nós usamos também nesse sentido. Mas o que nós lemos aqui neste capítulo de João é um pouco mais profundo do que isto.

Vamos pensar quem era Nicodemos antes. Nicodemos era um príncipe dos judeus, provavelmente um dos homens do Sinédrio, um dos homens importantes do governo e da religião judaica. Governo e religião judaicos eram coisas que andavam juntas, estavam sempre associadas. Ele era um fariseu também. Os fariseus eram, efetivamente, os homens que dominavam a religião, compunham uma das principais seitas dentro do judaísmo e eram os que mandavam, praticamente, nas questões de fé na sociedade judaica. Então ele era um homem importante, nós acreditamos até que fosse um homem bastante correto.

Ele vai conversar com Jesus à noite, um indício de que ele tinha medo porque aquele era um homem que veio da Galiléia, que ninguém sabia quem era, era filho de um carpinteiro, não tinha formação nenhuma, não tinha formação religiosa, não era um nobre, não era um fariseu, não era ninguém, era um homem comum que agora estava causando furor ali na terra de Israel, fazendo muitos milagres, muitas coisas maravilhosas e fazendo afirmações até controversas para aquele povo porque ele se dizia igual a Deus, dizendo-se filho de Deus ele fazia-se assim igual a Deus. Ele era acusado disto e era proclamado também como rei dos judeus, então era, efetivamente, alguém que causava um alvoroço naquela sociedade naquele momento.

E Nicodemos era um homem dos fariseus e, quando nós lemos os evangelhos, vemos que os fariseus foram os maiores opositores de Jesus; não foram os bandidos, os ladrões, os corruptos da época, os publicanos, os coletores de impostos que se opuseram a Jesus, foram os fariseus. E ele também nunca tratou mal as prostitutas, os ladrões, ele tratou duramente os fariseus, que eram os religiosos, os homens corretos que procuravam guardar a Lei e faziam as pessoas guardarem a Lei, eles colocavam fardos pesados nas pessoas para que elas guardassem a Lei. Muitos deles nem sequer moviam esses fardos mas, exteriormente, eram aquilo que Jesus falava, sepulcros caiados.

Eles eram muito bons na aparência, na sua forma de se apresentar na sociedade mas eu acredito até que existissem aqueles que eram realmente corretos, como talvez esse Nicodemos aqui. Esse Nicodemos não parece ser a ala perversa dos fariseus, ele parece ser um homem temente a Deus, justo dentro da sociedade judaica. E ele vai à noite porque ele não queria ser visto pelos seus amigos fariseus. Se nós abrirmos no mesmo evangelho de João, capítulo 7, mais adiante ele vai até se comportar com certa desenvoltura em meio às críticas que os fariseus estão fazendo contra Jesus, versículo 50: "Nicodemos, que era um deles (o que de noite fora ter com Jesus), disse-lhes: Porventura, condena a nossa lei um homem sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que faz? Responderam eles e disseram-lhe: És tu também da Galiléia? Examina e verás que da Galiléia nenhum profeta surgiu. E cada um foi para sua casa."

A Galiléia era uma região desprezada em Israel. Ser galileu era algo digno de desprezo, se bem que o Senhor Jesus tivesse nascido em Belém da Judéia, mas ele morou na Galiléia e era visto como um galileu. E aqui Nicodemos tem um pouco mais de audácia em tomar partido acerca de Jesus. Mas ele já leva o troco na mesma hora: você também é da Galiléia? Você não sabe que da Galiléia nenhum profeta surgiu? Voltando ao nosso capítulo 3, esse homem vai à noite porque ele teme, porque a sua reputação não permitia que ele fosse de dia. Ele não queria ser visto, isto o depreciaria, o colocaria em uma posição inferior em relação aos seus companheiros, aos seus colegas, pensariam mal dele. Mas um outro detalhe que acontece é que, de repente, ele chama esse carpinteiro de mestre, de Rabi.

Rabi era uma posição elevada no judaísmo, não era todo mundo que era um Rabi, mas ele chama o Senhor Jesus de Rabi, de mestre e, com isto, ele reconhece que há alguma coisa nele que é diferente. Algo chamou a atenção; no versículo 2 lemos: "Rabi, bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele." E realmente Nicodemos está aqui reconhecendo uma característica do povo judeu. Mais à frente nós vemos em 1 Coríntios que os judeus pedem sinal e os gregos buscam sabedoria. Para falar com os judeus Deus sempre usou sinais, milagres, coisas maravilhosas porque era isso que eles esperavam. Eles eram muito práticos e queriam ver as coisas. Até hoje esta é uma característica de um judeu; eles são muito diretos nas suas coisas.

E aqui esse homem reconhece a Jesus como mestre e reconhece que Deus está fazendo alguma coisa por intermédio dele. O Senhor responde, parece até que o Senhor muda de assunto quando ele traz essa questão, "Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura, pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer?" Nicodemos está pensando em termos terrenos, ele não entende a situação e até alguns versículos adiante os mostra conversando como se fosse uma questão filosófica.

O Senhor está falando ninguém pode nascer de novo, e ele fala é, e continua discutindo, mas vai chegar um versículo que o Senhor Jesus fala para ele, no versículo 7: "Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo." Oras, agora é com ele. Muitas pessoas ouvem falar de Jesus, leem a Bíblia, vão a Jesus, se interessam por Jesus porém, como se fossem aquelas cartas que as pessoas mandam para a seção de cartas dos jornais falando: precisamos resolver o problema ambiental do nosso país, precisamos resolver o problema da fome, precisamos, mas é um precisamos do tipo eu escrevo a carta e vocês resolvem. É sempre alguma coisa que não envolve, não compromete. Ele não fala eu vou resolver o problema ambiental, eu vou resolver o problema da fome.

Da mesma forma, muitas questões em torno da Bíblia, em torno da salvação eterna, em torno de Jesus, de Deus, sempre ficam rodando somente no plano intelectual. Mas Cristo veio tratar com o ser humano e cada ser humano dará conta de si a Deus. Cada um individualmente, não existe procuração na relação homem com Deus, ninguém vai poder falar eu sou representado aqui pelo padre da minha paróquia ou pelo pastor da minha igreja. Não, não existe isso. Cada ser humano tem a sua responsabilidade para com Deus, por isto o Senhor Jesus vai direto no coração dele e fala: necessário vos é nascer de novo; você tem que nascer de novo. E não se espante com isto que eu estou dizendo, necessário é você nascer de novo.

Mas pensemos, Nicodemos não era um indivíduo religioso, correto, justo, com uma reputação a zelar? Era, claro. Mas o que o Senhor está falando para ele é que nada disso vale. Nicodemos, a sua religião não serve, não vai adiantar nada. As suas boas obras, a sua justiça, a sua reputação, nada disso tem importância para você poder ver o reino de Deus. Nada disso tem importância na sua salvação. Você terá que partir do zero. O que é nascer de novo?

Uma criança quando nasce, ela nasce do zero, nasce nua, sem dente, ela não tem nada. Não sabe falar, não é educada ainda. Ela vai começar a vida dela a partir do zero, terá que aprender tudo ao longo da vida dela. Terá que aprender a sentar, andar, falar, algumas precisam até aprender a respirar quando nascem, outras precisam aprender a mamar porque não conseguem sozinhas, tudo é zero. A criança que nasce, nasce do zero. E é isto que ele está falando para Nicodemos. Nicodemos, formata o seu HD. Você precisa formatar o seu HD, passar uma borracha em tudo, você precisa acabar com o Nicodemos, você precisa nascer de novo. Começar do zero.

Muitas vezes a gente pensa que isto seria bom para alguém que estivesse com uma vida torta. Lembro-me de uma vez quando eu era recém-convertido e fui visitar uma pessoa, falei do evangelho, assim todo animado; quando a gente se converte, no começo existe um primeiro amor, existe uma ânsia de querer salvar as pessoas, aquele desespero de querer salvar cada um que a gente encontra. E eu contei toda a minha história, como me envolvi com filosofias, com esoterismo, com espiritismo, com macrobiótica, com tantas coisas e daí acabei me convertendo e fui salvo por Cristo. Ele virou para mim e falou: Mario, isso é bom para você que estava metido em todas essas coisas, mas veja eu, eu sou uma pessoa correta, eu tenho o meu trabalho, tenho a minha família, tenho a minha profissão, tenho a minha vida tranquila, não tenho nada disso e não passei por nada disso, não preciso de tudo isso, não preciso disso. E eu não sabia o que responder a ele porque também na minha cabeça, até aquele momento, eu estava achando que nascer de novo fosse para uma pessoa que está num buraco tremendo e precisa mudar de vida, mas, necessário vos é nascer de novo.

Ele está falando para um Nicodemos, religioso, justo, correto, todo certinho, que ele precisa agora começar da estaca zero. Talvez Nicodemos nessa hora pudesse falar: bom, a partir de amanhã eu vou me esforçar mais. Não, Nicodemos, você não tem que se esforçar mais, é nascer de novo. O que é um nascimento? Um nascimento é uma coisa que acontece independente do nascido. Quando um bebê nasce ele não pediu para nascer, ele não decidiu nascer, ele não tomou nenhuma atitude, nada. Os pais dele tomaram uma decisão, a mãe sofreu um bocado no parto, houve muita dor, muito sofrimento, muita angústia até que aquele bebê nascesse. E o novo nascimento segue o mesmo padrão.

Primeiro, vem de Deus. O versículo 5 diz: "Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito." E no versículo 8: "O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito." Uma origem invisível, uma origem que não dá para você saber de onde é. E esse nascer de novo tem um outro significado também que é nascer do alto, de cima para baixo. Agora Nicodemos realmente não sabe o que dizer, mas necessário era nascer de novo.

O importante dessa passagem primeiro é entender que o novo nascimento é uma obra de Deus, é uma obra que Deus faz na alma do homem. E o Senhor Jesus continua explicando para Nicodemos coisas importantíssimas. Alguém poderia dizer: então eu vou sentar no sofá e quando Deus quiser que eu nasça de novo eu vou nascer de novo. Não, não é assim. No versículo 14 o Senhor fala: "E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus."

Os dois meios de se passar pela condenação: ser muito bom ou ser muito ruim. Porque efetivamente, todas as pessoas, de classes boas, classes ruins, classe alta, classe baixa, rico ou pobre, não importa, todas se encontram numa mesma condição aos olhos de Deus, não aos olhos dos homens. Aos nossos olhos as pessoas variam de posição, de condição, mas aos olhos de Deus todas estão numa mesma situação, todas estão debaixo de uma mesma condenação. Todas estão debaixo do pecado que arruinou a criação, o pecado que entrou no mundo, o pecado que deteriorou totalmente a criação original de Deus. E Deus precisou tomar alguma iniciativa, fazer alguma coisa a respeito disso e, como acontece no nascimento, que o parto exige que alguém sofra e não é a criança, é a mãe que sofre, tem uma série de sofrimento, Deus escolheu que o seu Filho sofresse toda a dor e não só dor, mas que ele passasse pela morte.

Nós sabemos que num parto há sempre um risco de morte da mãe. Há um número grande de óbitos no parto. Até hoje, mesmo com medicina moderna, sempre existe um risco de óbito no parto. Mas Cristo, efetivamente, não correu um risco, ele foi à morte, ele foi à morte para possibilitar a paga do pecado do homem. Para possibilitar, com o seu sangue derramado, pagar o pecado do homem, morreu e ressuscitou para justificação do ser humano que crer nele como Salvador. Por isto agora todos os homens se encontram na mesma situação: pecadores, perdidos, debaixo da mesma condenação, seja ele Nicodemos, seja ele ladrão na cruz. Qualquer um, estão todos iguais.

E existe um convite para que todo aquele que nele crê, que crê em Jesus, tenha a vida eterna, não pereça, mas tenha a vida eterna e esta vida vem de Deus. Não é vida perene, não diz vida perpétua, diz vida eterna. O que é uma vida perpétua? É como jazigo perpétuo. Você vai num cemitério popular e quem é enterrado lá daqui a dez anos é desenterrado, posto numa caixa e guardado noutro lugar. E tem o jazigo perpétuo, você compra o terreno e ninguém pode mexer. Da sua morte para sempre fica garantido que ninguém vai mexer na sua sepultura, não será desenterrado e levado para outro lugar.

Então vida eterna não é vida perpétua, não é uma vida que você recebe na hora que crê em Jesus e dali para frente você vai viver para sempre. Não, vida eterna é a vida que não tem começo e não tem fim. É uma vida que Deus dá, é uma vida que vem do alto, não é uma vida natural, não é a vida normal que nós temos. Mas para que nós recebamos a vida eterna é preciso morrer, e nós tivemos um que morreu por nós, morreu em nosso lugar, morreu para nos dar a vida eterna, derramou o seu sangue na cruz, entregou a sua vida para que nós tivéssemos vida.

E necessário vos é nascer de novo, ele repete isto várias vezes para Nicodemos até o ponto de saturação, Nicodemos terá que nascer da água e do Espírito. Existe muita confusão quanto a esta água que ele fala aqui. Muitos consideram que esse nascer de novo, nascer da água e do Espírito, seria um novo nascimento em duas etapas, uma você passaria pelo batismo nas águas e a outra seria a parte que Deus faz para você ser salvo e então receber vida eterna. Mas aí nós temos um problema com essa interpretação.

Se o batismo salva, ou tem algum papel na salvação eterna de uma alma, então nós temos mais de um salvador. Nós precisamos de Jesus para nos salvar, porque ele morreu por nós na cruz, e precisamos também de um batizador. Se eu estiver perdido num deserto, à mingua, à beira da morte, passando fome e sede, pronto a sucumbir, de repente me lembro de alguém que pregou o evangelho e falou: crê no Senhor Jesus e será salvo, Deus enviou seu filho ao mundo para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna, eu me lembro disso e puxa, que bendita esperança, então me entrego a Jesus totalmente, creio nele, confio que ele pagou pelos meus pecados na cruz e de repente vem uma lembrança de alguém de uma igreja A, B, C, D que disse: não, mas se você não for batizado você não será salvo, não tem salvação.

Eu olho em volta, no deserto, e falo e agora? Falta-me a água e falta alguém que me batize. Nisto aparece alguém lá com água, um beduíno carregando água e eu falo: por favor, me batize e ele fala: não, eu não sou da sua religião, não acredito nessas coisas, portanto, não vou batizar. Pense que situação mais grotesca e mais horrível quando você considera que é preciso alguém mais para salvar do que apenas Jesus, é preciso também um batizador. A pessoa que batiza é colocada no mesmo nível do Salvador, que morreu na cruz. É um absurdo isto! É cruel este tipo de ideia, mas graça a Deus essa água não é a água do batismo, essa água é a água da Palavra de Deus.

Em outra passagem em Efésios nos fala lavados pela água, com água, pela Palavra de Deus. Essa mesma água que vai aparecer em figura no capítulo seguinte de João, quando o Senhor Jesus manda os servos do casamento, onde tinha acabado o vinho, encherem as talhas de água até em cima. E ele vem e transforma aquela água em vinho. Uma figura também de salvação, uma figura da pessoa que é completada até em cima com a água da Palavra de Deus, escuta o evangelho, escuta a Palavra de Deus e o Senhor Jesus opera uma transformação nessa pessoa fazendo com que ela seja agora cheia do vinho da alegria.  Vinho que significa alegria na Bíblia, é também uma figura do sangue, o sangue que é a vida do corpo.

Então, a Palavra de Deus, o evangelho que você tem ouvido falar, que você tem lido sobre, e o Espírito Santo, são as duas coisas que operam, que fazem, que causam esta transformação graças a obra que Cristo cumpriu na cruz do Calvário, morrendo no lugar do pecador. Essa é a salvação. Muitos ficam só filosofando em torno da Bíblia, da teologia. Outro dia  recebi um email e a pessoa queria saber o que eu era. Se eu era hipercalvinista ou o quê? Ele disse que eu parecia ser teocêntrico, mas ao mesmo tempo o artigo que publiquei era mais para o lado  hipercalvinista, e fez uma salada de termos. Eu escrevi para ele e falei: não sei o que você está falando, isso é grego para mim, não sei nada disso.

Será que é tão complicado assim, conhecer a Palavra de Deus, conhecer a Deus, ter a salvação eterna? Não; Deus é acessível, a palavra dele é acessível, crê no Senhor Jesus e serás salvo. Não preciso ser ísta isso, ísta aquilo, não preciso de nenhum ismo; preciso de Jesus, preciso só do Salvador, só isto que preciso para ser salvo. E agora Nicodemos, evidentemente Deus está fazendo uma obra na vida dele; ele não vai sair dali e falar: bom, vou começar de novo, vou me esforçar mais. Não Nicodemos, fica quieto, você não vai fazer nada, é Deus quem vai fazer em você.

Muitas religiões acreditam que a salvação é levantar o braço e ir à frente numa pregação e falar eu agora aceito, repita comigo, daí vem uma oração lá, eu agora aceito e o cara sai dali e fala a partir de amanhã vou parar de fumar, parar de beber. Isto não é a salvação, isto é esforço humano ainda. Não é o que eu faço, não é a decisão que eu tomo, não é acordar de manhã e falar a partir de hoje é um novo dia na minha vida. Não é isto, isto não é a salvação.

A salvação é uma obra divina na sua alma. O seu papel é crer. Talvez você tenha algum esforço em largar para trás o Nicodemos velho que há em você, com todas as suas obras, todos os seus feitos. Talvez com isto aí você terá muito trabalho porque isto é a sua reputação, isto é o seu nome, o seu ego. O que é o pecado senão nós fazermos a nossa própria vontade? Essencialmente, pecado é viver segundo as minhas próprias regras, segundo a minha própria vontade, o meu próprio desejo. Então quando uma pessoa assalta um banco ela está pecando porque ela assaltou um banco, ela quer o dinheiro do banco. Mas quando uma pessoa faz caridade, dá uma esmola, porque isto faz com que ela se sinta bem, ela também está pecando. Ela também está pecando porque está fazendo algo para si, não para Deus. É diferente de assaltar um banco? Diferente, claro. É condenável assaltar um banco e louvável dar uma esmola, mas nas coisas de Deus, referentes à salvação, que é do que estamos tratando aqui, as duas coisas não têm valor nenhum, nada.

E Nicodemos vai entender isto. Não existem duas conversões iguais. Muita gente quer perguntar às vezes como foi a sua conversão. Você viu alguma coisa? Você falou em línguas? Você tremeu, teve algum sonho? Não é assim. Isto aí também é mais uma coisa tentando fazer da salvação uma coisa visível, uma coisa de homens. Não é assim que funciona, a salvação é uma obra de Deus e não há duas pessoas que sejam tocadas por Deus da mesma maneira. Deus vai tratar com cada um individualmente e ele vai tratar com Nicodemos naquilo que talvez fosse o maior problema dele, que era a sua justiça própria, o seu ego, a sua reputação, pois três vezes nesse evangelho, quando fala o nome Nicodemos, fala que ele foi à noite ter com Jesus. Por que então, repetir isto três vezes?

Porque ele estava com vergonha de ir falar com Jesus. Porque ele tinha um grande zelo por sua reputação e não podia deixá-la para trás, mas Deus vai cuidar disto. Tanto é que naquela situação em João 7, quando ele já toma partido a favor de Jesus, quando os fariseus estão comentando que a multidão está seguindo a Jesus e os próprios fariseus falam: ah, essa plebe, esse povinho aí não sabe de nada, eles estão seguindo-o porque são ignorantes, mas nós não, Nicodemos entra e fala: não podemos julgar um homem dessa forma. Você também é da Galiléia, também é dele?

Ele tomou um partido aqui. Já levou o troco, é uma prova de que Deus estava mexendo no seu coração. Mas o ápice da conversão de Nicodemos encontramos em João 19, por isto lemos as duas passagens. Ali é Nicodemos dando um testemunho público da sua fé. Romanos 10, versículo 8: "Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido.  Porquanto não há diferença entre judeu e grego, porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo."  A boca e o coração. Talvez você queira crer no coração e ficar quietinho sem que ninguém saiba disto, sem testemunho público. Deus o levará a dar um testemunho público de Cristo.

Não que isto seja algo constrangedor, você diz ah, agora eu preciso dar um testemunho. Não, Deus vai fazer isto com você. Muitos que falam, falam, gritam, gritam, no fim, na hora do aperto, fogem. Todos os discípulos do Senhor estiveram com ele o tempo todo, foram muito resolutos, muito corajosos em expulsar demônios, realizar curas, pregar o evangelho, mas na cruz, quando o seu mestre, o seu Senhor foi preso, torturado e pregado numa cruz, onde estavam esses discípulos? Um o negou, três vezes falou que nem o conhecia. Os outros fugiram, mas nessa hora nós vemos dois homens e os dois homens mais improváveis de fazer isto porque ninguém jamais queria ter qualquer relação com um condenado à morte numa cruz entre dois ladrões. Ninguém queria. Seria demais para a carreira de qualquer pessoa se identificar com esse Jesus, ainda mais morto, agora que ele não pode fazer mais nada; agora que acabou todo aquele plano daquele que viria a ser o rei de Israel, agora está morto, é um cadáver.

Era um serviço que normalmente as mulheres faziam, as mulheres cuidavam dos corpos, dos mortos, pois na sociedade de então o homem era muito importante para pôr a mão nessas coisas. É como alguns serviços: carregar cântaro de água pela rua, cuidar de um morto, colocar os aromas no morto para ele ser sepultado; eram serviços de mulher. E agora nós vemos dois homens, lá em João, capítulo 19, nós vemos José de Arimatéia, um homem rico que também devia ser alguma coisa na política e na sociedade judaica, e Nicodemos. Eles vão a Pilatos pedir o corpo de Jesus para enterrar com honra, com cuidado, com aromas.

Nicodemos leva quase cem arratéis de um composto de mirra e aloé, muito perfume para fazer o papel de uma mulher colocando os perfumes, uma mortalha naquele corpo e enterrando o corpo num sepulcro novo cavado numa rocha em um jardim, um lugar onde ninguém tinha sido sepultado ainda. O que é isso? Esse é o testemunho de alguém que realmente creu, de alguém que realmente nasceu do alto, tem uma vida nova a partir do zero. Ele está com aquela vida do bebê agora, não tem nada a ver com o velho Nicodemos. Ele está pouco se importando se alguém vai vê-lo ali descendo aquele corpo morto, enrolado em um tecido. Ele não se importa, é outra pessoa agora, é outro ser humano.

É isto que acontece quando uma pessoa crê em Jesus, quando uma pessoa é salva por Cristo Jesus. Há uma mudança, mas não uma mudança feita pela pessoa, é uma mudança feita por Deus. E não importa se você aqui é Nicodemos ou se você é um ladrão, se você é justo ou se você é um qualquer numa sarjeta, um pobre coitado viciado, caído na rua, não importa. A cada um o Senhor fala: necessário vos é nascer de novo. Não há distinção. Esta foi a mensagem dada a Nicodemos e esta é a mensagem que Deus hoje proclama em todo o mundo ainda para que haja salvação. Eu espero que Deus toque o coração dos que estão lendo essas palavras e, se for alguém que ainda não conhece o Salvador como Senhor, alguém que ainda não crê no Salvador Jesus, que possa crer nele agora.